VetBizz Summit: o rescaldo
Os principais objetivos da primeira edição do VetBizz Summit foram plenamente alcançados. Tivemos lotação esgotada com 120 participantes, que contribuíram enormemente para potenciar a partilha de conhecimentos e networking. Pela primeira vez, um evento de gestão veterinária juntou diretores clínicos e gestores de CAMV a profissionais das indústrias alimentar, farmacêutica e distribuição, criando uma verdadeira simbiose entre todos, num ambiente pleno de harmonia e sentido de aprendizagem. Foram dois dias intensos e bastante imersivos, pois para além das palestras do dia 22 de setembro (sexta) e das masterclasses, de caráter prático, do dia 23 (a decorrer em duas salas em simultâneo), a noite de sexta foi marcada por um ambiente verdadeiramente descontraído e informal no jantar de networking, num local icónico como o Wellness Gardens, da Quinta Senhora do Penedo, em Valadares. O serão iniciou-se com um cocktail de boas-vindas, sessão de fotografias e atividades de entretenimento, tendo-se seguido o jantar, que também contou com a participação de videobooth, um grupo de danças orientais e ainda um DJ e bar aberto, que se prolongou até as 2h.
Sentimo-nos genuinamente realizados com o VetBizz Summit, pois os participantes partilharam connosco que necessitavam de uma formação desta natureza, mais disruptiva e de maior imersão, e com conteúdos de relevância apresentados por oradores nacionais e internacionais de inquestionável qualidade. Os temas abordados foram criteriosamente selecionados pela VetBizz Consulting, de forma a acompanhar a atualidade dos CAMV e as mais recentes tendências do setor veterinário.
Na palestra que tive oportunidade ministrar, conjuntamente com a Mariana Jerónimo, da nossa empresa parceira 2Logical (empresa de estudos de mercado na área da saúde), apresentámos um estudo pioneiro em Portugal que apresenta conclusões muito interessantes sobre a relação entre o tutor e o seu médico veterinário. Iremos divulgar esse estudo em diversos canais de comunicação, sendo que iniciei a minha intervenção dando alguns insights sobre o estado atual da economia nacional e mundial, com inevitáveis impactos no setor veterinário. Em Outubro de 2022 tinha apresentado a mais de 400 pessoas numa palestra de gestão que a invasão da Rússia na Ucrânia iria gerar efeitos nefastos a vários níveis, provocando uma subida gradual no preço das commodities, nomeadamente matérias-primas alimentares e energéticas. Com este aumento em bens tão essenciais para a população, seria inevitável um cenário inflacionista que, por sua vez, apenas poderia ser controlado pelo Banco Central Europeu com o aumento da taxa diretora. Ora, essa taxa atingiu há poucas semanas o valor mais alto de sempre (4,75%), tendo como consequência imediata o (novo) aumento das taxas Euribor, que continuam a bater valores históricos. Sabendo que o orçamento familiar está muito condicionado com créditos habitação e pessoais que estão indexados à Euribor, seria muito fácil prever que iriamos assistir a uma diminuição do poder de compra. Volvidos doze meses desde essa apresentação, em que incentivámos os CAMV a aumentarem (legitimamente) de forma significativa os preços dos seus produtos e serviços para acompanhar o nível inflacionista, confirma-se o cenário de que o menor poder de compra dos consumidores já tem impacto nos CAMV, pois observou-se um ritmo de menor crescimento nos meses de agosto e setembro e, em muito casos, de decréscimos face a períodos homólogos do ano anterior (inéditos em 2023). A minha expetativa é de que os próximos seis a doze meses serão bastante desafiantes para os CAMV, com menores taxas de crescimento, menor rentabilidade (porque os custos inerentes a compras de produtos e gastos com pessoal, que representam entre 60% e 80% da faturação dos CAMV, não terão necessariamente decréscimos) e clientes cada vez mais exigentes e intolerantes (efeitos psicográficos típicos de uma hipotética recessão económica).
A faturação global dos CAMV registou um crescimento de 4,9% em 2022, face a 2021, abaixo da minha estimativa do início do ano, que intervalava entre os 7% e 10%. Pela primeira vez, em praticamente uma década, o crescimento percentual situou-se abaixo dos dois dígitos. A agravar, o crescimento não acompanhou a inflação média em Portugal, que foi de 8,1% em 2022, ou seja, em termos reais a faturação dos CAMV decresceu em 2022. A inflação média prevista para 2023 é de 5,4%, validando a tese de que os próximos tempos serão verdadeiramente desafiantes.
Na próxima crónica da Veterinária Atual apresentarei mais detalhes do setor veterinário, nomeadamente variações homólogas de vários indicadores económico-financeiros.