Economia Portuguesa – Outlook 2024
Durante o primeiro semestre de 2023, foram vários os obstáculos que a atividade económica global e nacional superou. Temos assistido a uma trajetória descendente da inflação desde o início de 2023. Assim, podemos estar a aproximar-nos de um ponto de viragem onde os efeitos da política de contração monetária do Banco Central Europeu (BCE) ao longo dos últimos 18 meses irão finalmente aparecer.
Mas a inflação será uma solução ou tendência?
Os bancos centrais utilizam a política monetária para restringir o consumo e, com isto, impulsionar a diminuição da inflação para que, a curto e médio prazo, esta atinja o objetivo de 2%.. O BCE tem aumentado as taxas de juro desde o último trimestre de 2022. A necessidade de travar o aumento da inflação levou os bancos centrais a aumentar as taxas de juro. Desde o final do 1.º trimestre deste ano, as taxas de juro diretoras do BCE aumentaram de 3,0% para 4,5%, tendo o último aumento ocorrido em setembro de 2023. Houve um aumento de 1,5 p.p. em apenas 4 meses. Atingido o pico e mesmo num contexto de diminuição das taxas, não se espera que regressem tão rapidamente aos níveis observados em meados de 2022. O cenário mais provável é que permaneçam em valores restritivos durante grande parte de 2024.
O comportamento da inflação na Europa continua sujeito a dois riscos. Por um lado, a pressão sobre os preços dos produtos energéticos, considerando também os progressos que têm sido alcançados no domínio das energias renováveis e da diversificação de fornecedores. Por outro lado, o que os economistas chamam de efeitos de segunda ordem. Ou seja, temos assistido a alguma recuperação dos salários, o que se traduziu num amortecedor contra os efeitos da inflação, e este fenómeno não ajuda no combate à erosão monetária. A inflação na área do euro também tem vindo a diminuir ao longo dos últimos 12 meses, atingindo 4,8% em Setembro (menos 0,4 p.p. face a Agosto) e caindo para 2,9% em Outubro, valor que se manteve em Dezembro, segundo a Eurostat. Portugal fechou 2023 com uma inflação de 1,4%, enquanto a média anual foi de 4,3%. O sentimento do mercado é que os bancos centrais conseguirão reduzir a inflação para 2% nos próximos 2 anos. No caso europeu, contudo, tudo depende, desde logo, das poupanças acumuladas desde a pandemia. E no caso de Portugal, estas infelizmente atingiram o seu limite. O agravamento dos encargos mensais de muitos agregados familiares, juntamente com os escassos estímulos ao aforro, resultou numa taxa de poupança das famílias que está num dos valores mais baixos deste século. No 4.º trimestre de 2019, a taxa de poupança das famílias era de 7,2% do rendimento disponível. Quase dobrou para 13,7% no final do primeiro trimestre de 2021, em plena pandemia. Mas desde então, segundo dados do INE, continuou a cair, tendo alcançado os 5,9% no 1º trimestre de 2023. A agravar, a inflação alemã demorou mais tempo a descer e a chegar a números idênticos aos portugueses e tem um peso bastante maior na inflação da Zona Euro. Este fator por si só pressiona os preços no resto da Europa e impede o alívio das taxas de juro.
Segundo o Banco de Portugal, a inflação deverá prosseguir a trajetória descendente, reduzindo-se para 2,9% em 2024 e para 2% até ao final de 2025. Após um crescimento de 2,1% em 2023, a economia portuguesa deverá abrandar para 1,2% em 2024 e crescer 2,2% em 2025 e 2% em 2026. A recuperação da atividade será gradual ao longo do próximo ano, beneficiando da aceleração da procura externa, do efeito da descida da inflação no rendimento das famílias e do impulso dos fundos europeus no investimento. Em 2025 e 2026, o crescimento beneficiará da dissipação gradual do impacto da subida das taxas de juro.
Referi numa palestra do VetBizz Summit, em setembro de 2023, que a economia nacional enfrentaria um período desafiante nos 6 a 12 meses seguintes. O contexto europeu está a condicionar a dinâmica das economias dos seus países e em Portugal temos ainda a agravante da instabilidade política. Empiricamente, nos últimos 12 anos sempre que o país apresentou debilidades no seio político, teve como consequência imediata uma retração no consumo nos CAMV. E é precisamente esse comportamento que estamos a verificar no último par de meses e que certamente se prolongará até 10 de março, dia em que conheceremos quem irá governar o nosso país. Acredito que a partir de daí, e com a ajuda de uma inflação cada vez mais controlada e melhoria nos níveis de confiança dos consumidores, o setor veterinário apresente níveis mais acelerados de crescimento nos meses seguintes, atingindo o seu pico no período do Verão.
Fruto de uma maior consciência dos gestores dos CAMV, observa-se um comportamento (mais) generalizado no sentido de aumento dos preços dos serviços veterinários, o que também contribuirá para o aumento do volume de negócios no setor. Não obstante, e apesar de estimar um crescimento entre 7% e 10% na faturação média dos CAMV em 2024, tenho mais reservas quando à rentabilidade do negócio dos mesmos, que poderá manter os níveis de 2023, que foram inferiores em comparação com os dois anos anteriores.