
Redução de custos: o novo paradigma
por Dilen Ratanji, Diretor-Geral da VetBizz Consulting, em Veterinária Atual.
“Redução de custos” é uma expressão cada vez mais utilizada nos dias de hoje. O sector veterinário não é uma excepção. Os CAMV têm cada vez mais consciência da importância na racionalização dos custos, pois gerar aumento de receitas não é tarefa fácil nos dias que correm. O crescimento líquido de CAMV’s implantados em Portugal é crescente todos os anos (leia-se, aumento da concorrência), o poder de compra dos portugueses cada vez mais baixo, o receio que o Governo continue a lançar medidas de austeridade cada vez maior, a taxa de desemprego que teima em não parar de crescer, entre outros factos que não abonam nada a favor dos nossos negócios. Temos todos a consciência que o micro-mercado em que actuamos é limitado e que a captação de novos clientes diminui tendencialmente ao longo do tempo. Um CAMV com 10 anos de antiguidade não terá, na teoria, o mesmo ritmo de captação de novos clientes que um CAMV com apenas 2 anos de existência. Pois bem, impera aqui a necessidade de criar programas e acções que potenciem a fidelização e retenção de clientes actuais e, consequentemente, o aumento da transacção média por visita de cada cliente. Regra geral, e pela nossa experiência de consultoria em CAMV’s a nível nacional, entre 60% a 70% dos clientes indica a proximidade geográfica como principal motivo de adesão.
Se não houver uma gestão disciplinada e rigorosa ao longo dos anos, facilmente constatar-se-á a criação de “gorduras” desnecessárias no CAMV, que devem ser eliminadas no menor espaço de tempo. Pensa-se, recorrentemente, que a forma mais célere e eficaz de reduzir os custos é diminuindo o quadro de pessoal. Nem sempre. Uma acção desta natureza apenas fará sentido se a diminuição do volume de negócios for significativa ou se adoptarmos uma estratégia de actuação que não implique a colaboração de tantos recursos humanos (ex.: estratégia baseada no canal de distribuição online). Os programas de layoff (redução temporária do período de trabalho ou suspensão do contrato de trabalho, por iniciativa da entidade patronal, durante um período de tempo, na condição de tal medida se mostrar indispensável para a viabilidade económica da empresa) que muitas empresas têm vindo a adoptar, podem ter um impacto negativo na produtividade dos negócios, uma vez que estamos a condicionar o grau de motivação dos colaboradores actuais e cessantes. Pela experiência que adquirimos ao longos dos últimos anos, identificámos alguns padrões de comportamento nos CAMV: quando se fala em reduzir custos, para além do pessoal, lembram-se de imediato da necessidade de negociar condições comerciais, rappel e outras ofertas com os distribuidores de medicação e alimentação, de cortar no orçamento de marketing e eventualmente de renegociar o valor da renda do imóvel. Contudo, de realçar que há muitas outras despesas que somadas têm um enorme contributo na estrutura de custos da empresa, tais como as comunicações (fixas e móveis), serviços bancários e seguradores (custos com o TPA, seguros obrigatórios e opcionais, contas ordenado, entre outras), consumíveis, acções de marketing offline e online, contabilidade, impressoras, alarme e videovigilância, prestação de serviços médicos externos, gestão de equipamentos, entre outros. Curiosamente, estes custos nem sempre são negociados pelos CAMV. Muitas vezes por não terem noção que contribuem de forma tão significativa para os custos globais da empresa, mas outras vezes porque é mais fácil cortar noutras rubricas, conforme mencionado anteriormente. É razoável que num CAMV cerca de 40% das receitas se destinem a gastos com pessoal (nos médicos veterinários, em particular, deverão representar idealmente até 20%), contudo o seu contabilista certamente dirá que aquele valor não deverá ultrapassar os 30%. Esta é, por exemplo, umas das especificidades do negócio veterinário, pois implica um investimento inicial acima da média de outros sectores de actividade, nomeadamente com a aquisição de equipamentos (raio-x, ecógrafo, bombas infusoras, hemogramas, bioquímicas, entre muitos outros), o que aumenta os custos fixos e variáveis.
Outra questão premente, que permite a redução de custos, consiste na gestão fiscal da empresa, que deve ser discutida em parceria com a contabilidade do CAMV. Não estamos a falar de “reengenharia financeira” ou de fuga fiscal. Longe disso. No entanto, legalmente é possível que os CAMV obtenham maior eficiência fiscal de forma a pagarem menos impostos e, por inerência, aumentar os resultados globais da empresa. Conforme referi no artigo do mês anterior, o mapa de exploração mensal pode ser uma excelente ferramenta para reflectir sobre esta questão e ainda analisar a evolução mensal dos custos das principais rubricas contabilísticas. E não se esqueça que o seu contabilista não deverá ser um mero intermediário entre a empresa e a autoridade tributária, mas sim, e cada vez mais, um controller de gestão. Exija o que merece.
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)